Origem, história e evolução


Para Bernardo Lima (1873) um “alentejano” pequeno, bem adaptado aos cerros de magras pastagens e duros carregos. Rijo para carrear e lavrar nas encostas e serras e produzindo o melhor boi de cabresto. Existindo no Baixo Alentejo, nas terras de Mértola, Alcoutim e Martinlongo.



Como boi de cabresto foi levado para o trato do gado de lide na região do Ribatejo. Era um Mertolengo unicolor, com cor mais retinta, sem malhas e de corna espiralada.

O Professor Paula Nogueira (citado por Isaías Vaz, 1987), refere que no Baixo Alentejo, os bois são menos corpulentos e, na região de Mértola, cortada pelo Guadiana, há uma variedade chamada Mertolenga, composta por animais de pouco corpo e de cor bastante cereja ou castanha, cujas formas fazem a transição do gado bovino Alentejano para o Algarvio.

Teófilo Frazão (1961), afirma que o verdadeiro Mertolengo, era aquele bovino adaptado pela sua pequenez e rijeza às terras ásperas, montuosas, bastante dobradas e parcas em forragem de Mértola e Alcoutim, que coincidia com a variedade citada por B. Lima.



Ainda para T. Frazão (1961), com o franqueamento da fronteira ao gado dos dois países ibéricos, por cerca de 1900, vieram entre eles, bovinos malhados que, já no país vizinho, tinham fama pela rusticidade e boa unha para a campanha do gado bravo. Umas reses ficaram na margem esquerda do Guadiana, outras foram para as feiras de Garvão e Aljustrel e daí para o Ribatejo.

Com a necessidade de um animal enérgico para as zonas orizícolas do Tejo, Sado e Sorraia, uma vez que os bovinos da raça Alentejana, da raça Mirandesa e da raça Brava, por razão de índole não satisfaziam as exigências, aparece o fenótipo vermelho bragado da raça Mertolenga, de perfíl recto, cornamenta em gancho alto e de índole arisca. A origem está associada às terras de Coruche, nas primeiras décadas do século XX, com interferência de gado Charnequeiro flavo e Mertolengo malhado proveniente de Garvão, daí tendo alargado a sua área de dispersão para os vales dos outros rios (Frazão, 1961).

Das explicações dos diversos estudiosos da raça Mertolenga, salta como reflexo directo da utilização do Mertolengo original “alentejanado” e do Mertolengo importado “malhado do Baixo Guadiana”, a permanência da geneticamente forte cor branca, dando origem ao Mertolengo rosilho mil-flores (que veio completar a componente “ruão” da raça bovina Mertolenga) e que rapidamente, pela conjugação de vantagens parciais dos outros dois tipos, se expandiu pela região de Serpa e Évora, e teve como local de solidificação racial a Herdade da Abóboda, devido ao esforço de vários entusiastas e conhecedores, dos quais destacamos o Dr. António José Borges Bettencourt, o Prof. Nuno Maria Villas Boas Potes e o Dr. Isaías Monteiro Vaz. Este último como Secretário Técnico da Raça, numa fase de turbulência Nacional, conseguiu o grande feito de uniformizar, dentro da sua especificidade, os três fenótipos Mertolengos.